Divulgadas conclusões do II Encontro Maçónico Internacional de Atenas
“Trabalhemos em prol de uma sociedade da Igualdade de Oportunidades, criemos Espaços Comuns para dialogar, para nos conhecermos, para nos reconhecermos; procuremos que o Direito ao respeito da identidade física, cultural e espiritual do homem seja uma realidade; afirmemos o direito de todos os indivíduos à Igualdade e à Liberdade!” - este é um trecho das conclusões do II Encontro Maçónico Internacional, realizado em Junho deste ano em Atenas, e que acabam de ser divulgadas.
Como na altura relatámos, esse encontro, promovido pela Ordem Maçónica Internacional “Delphi”, decorreu sob o lema “Construir a Europa, Construir o Mundo”, e contou com a participação de António Reis, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa, e de numerosas personalidades de destaque na vida política e cultural de diversos países.
Empreender uma acção
Eis o texto com as conclusões desse importante encontro:
“Juntar, convocar, reunir, concentrar e chegar a acordo, para empreender uma acção, uma missão, é esse o objectivo! Trata-se da expressão activa da Franco-Maçonaria Universal não dogmática! Reunimo-nos em Atenas: um lugar antigo e moderno ao mesmo tempo, impregnado de história, de vida, de ideias e de cultura! Chegou o momento de concluir o diálogo que iniciámos e conduzimos durante dois dias e que reflecte a mais um ano de trabalho, o balanço mundial da acção maçónica; foi um diálogo fecundo, vivo, intercultural que garantiu que todas as vozes fossem ouvidas.
“Construir a Europa, Construir o Mundo”
A noção de diálogo não corresponde apenas ao facto de falar em conjunto; compreende um discurso e uma troca de um pelo outro e para o outro. Dia-logos, é uma palavra grega, que significa etimologicamente “ser atravessado pela palavra do seu interlocutor”.
O verdadeiro diálogo demonstra que existem tantas formas de ligar a “diversidade” com a “unidade”, quantos forem os indivíduos! O diálogo intercultural postula que na União Europeia é conveniente multiplicar as formas de diálogo, para que sobressaia ao mesmo tempo o respeito pela diversidade e a partilha de um mínimo de valores comuns, o primeiro dos quais é talvez a necessidade de diálogo. Para nós Franco-Maçons, sublinhar o papel do diálogo, no aprofundamento da cidadania, era um dos nossos objectivos. Tal facto exige, simultaneamente, vigilância e espírito crítico!
Intervenientes e temas
Minhas Irmãs e meus Irmãos, não são as culturas que dialogam entre elas, mas as mulheres e os homens livres, os Franco-Maçons que trabalham a pedra bruta - a pedra bruta, que na verdade, sofreu apenas um pequeno desbaste. Especialistas de horizontes e competências profissionais diversas desenvolveram, com pertinência, os temas postos à reflexão do II Encontro Maçónico Internacional:
- O Desenvolvimento Económico ao Serviço do Cidadão: A Europa no Mundo e a Europa e o Mundo;
- A Defesa do Ambiente: Emergência e Exigência;
- A Implicação das Novas Tecnologias (nanotecnologia, numérico, robótica, demótica, etc.)
- A “Laicidade” no Início do Século XXI;
- A Educação da Juventude: o Direito à Educação para Todos e à Integração na Sociedade.
Opiniões Expressas
O tema central da nossa reflexão foi o Futuro da Europa, o seu papel no Mundo e o seu enriquecimento pelo Mundo.
Mas qual Europa? A dos 18 ou a dos 27? Devia ter sido alargada ou não? Aspiramos a uma “Potência Europa” ou apenas a um “Europa Livre Cambista”? Constatamos claramente que é necessário cuidar dos problemas da Europa, tanto ao nível administrativo e operacional, como ao nível da redefinição sensata e aprofundada dos seus valores e da pluralidade das suas culturas.
Nós observamos que, na Europa, se acentua sempre muito mais a diversidade das nossas nações e o respeito desta diversidade, que o que temos em comum! Na realidade, é preferível preservar esta diversidade, factor de riqueza, em vez de procurar e impor um perfil europeu “único” e “uniformizador”.
Por outro lado, foi assinalado por especialistas, que reflectem os ecos duma realidade mundial exigente, que a Europa deve procurar apenas que um desequilíbrio demasiado grande não se instale entre o seu flanco Este e os seus vizinhos do Sul. O estado da sociedade contemporânea – desigualdades, perda de qualidade de vida, pobreza extrema, fosso que se cava diariamente entre “os pobres que se tornam mais pobres e os ricos mais ricos”, imigração, integração dos imigrados, exclusão e desfavorecimento de certos cidadãos, perda de dignidade humana…, - exige acção.
A sociedade contemporânea sofre duma globalização selvagem, duma ausência de fraternidade e de solidariedade humana! É verdade! Além disso, existe uma certa tomada de consciência… “Não mudaremos o Mundo”, isto foi dito em voz alta! No entanto, partilhamos todos a mesma convicção que, nós, Franco-Maçons conscientes, devemos trabalhar para alcançar a realização de uma República de cidadãos livres e respeitadores.
É desejável que os Franco-Maçons se encontrem em lugares de responsabilidade, eleitos da República que, pela sua ética, pelo exercício exemplar dos seus deveres, procurem que a sociedade seja emancipada positivamente.
É importante o desenvolvimento económico? Sim, mas a economia sem política torna-se o caos e a política sem filosofia é oportunismo. É preciso pôr a economia ao serviço do cidadão.
Por outro lado, compreendemos que perante uma crise ambiental sem igual, ligada ao principal e relevante problema do Aquecimento Planetário e aos problemas de Segurança Alimentar, é preciso reagir imediatamente! O desenvolvimento só pode ser duradouro, se for acompanhado pelo respeito da Natureza e igualmente da biodiversidade!
A contribuição das Novas Tecnologias e das suas aplicações na vida quotidiana foi discutida e constatámos o modo como a evolução da Tecnologia e da Ciência pode estar ao serviço da qualidade da nossa vida e da Protecção do Ambiente e, ao mesmo tempo, reflectir a importância primordial do Ensino e da Educação.
Falando de Ensino, aparece uma outra exigência: a do Direito à Educação de todos. A juventude deve estar imersa num ensino que tenha em conta, ao mesmo tempo, as evoluções e o nomadismo das novas tecnologias, que combata um certo relativismo nocivo e possa abrir-se à diversidade.
Deve trabalhar-se desde que a criança desperta para o mundo inteligível, para uma educação preventiva, com vista a uma educação emancipadora; para viver e agir em conjunto, segundo os princípios laicos e os nossos valores democráticos, devemos ter consciência que “do futuro dos valores depende o Valor do Futuro”!
A Educação é um dos desafios maiores da Laicidade. A Laicidade sendo racionalista ensina a tolerância. Considera a criança e o estudante enquanto futuros membros da cidade. Ela constrói o cidadão num quadro de respeito mútuo.
No que diz respeito aos valores laicos, apercebemo-nos que um novo sectarismo está à nossa porta! Neste momento, constata-se que, na Europa, prosperam os lobbies integristas. Partilham uma certa tendência para a xenofobia, sobretudo na recusa do multiculturalismo e na sua preocupação em preservar uma cultura retrógrada. O nacionalismo e o eurocepticismo são princípios preponderantes igualmente ligados à xenofobia. O traço mais importante consiste no entanto em combater os direitos das mulheres, os direitos sexuais e reprodutivos e a Laicidade, isto é, o pluralismo democrático. A Laicidade é um conceito exigente: nós temos todos a responsabilidade dos fracassos e das vitórias.
O Trabalho Maçónico - Algumas Realizações este Ano
Ao fazer o balanço das acções deste ano, constatamos que os nossos esforços, embora não mudem o Mundo, são apesar de tudo frutuosos. Para além do trabalho habitual, no interior das respectivas Lojas e das nossas organizações, realizaram-se aproximações consideráveis ao nível inter-obediências e adquirimos o hábito de trabalhar em conjunto, com a força das nossas especificidades e a riqueza das nossas diferenças. Por exemplo, durante este Encontro levantámos colunas duma loja francófona “O Labirinto Iniciático” e foi anunciada a criação de um Observatório Maçónico Europeu na GLFF.
Minhas Irmãs e meus Irmãos, tudo mais que é preciso assinalar, segundo creio, é que durante este II Encontro Maçónico Internacional de Atenas, pela primeira vez, na nossa história, um Presidente da Comissão Europeia dirigiu-se às obediências maçónicas, oficialmente, e reconheceu, solenemente, o nosso papel e a nossa contribuição, para a evolução da sociedade! (Ver a Mensagem de Sua Excelência o Presidente da Comissão Europeia, Dr. José Manuel Durão Barroso já publicada neste portal).
Pela igualdade de oportunidades
O que é preciso fazer no futuro? Há necessidade de definir os nossos objectivos?
Os Maçons, mulheres e homens livres, no fim de um ano de trabalho maçónico, reúnem-se sempre numa cidade diferente, onde uma Obediência se encarrega de organizar este Encontro. Reúnem-se para reflectir, dialogar, fazer o balanço do trabalho realizado; abrem um espaço de troca de ideias, onde todos são aceites, diferentes mas iguais e fraternos e onde é preservada a Liberdade de Consciência Absoluta de cada um!
Pensamos criar uma Cadeia de Encontros Maçónicos Internacionais, onde cada um dará continuação ao outro, da qual Atenas foi o segundo elo, numa estrutura muito flexível e ligeira, onde uma grande liberdade de expressão e de acção vai reinar. É o acordar em nós de uma grande responsabilidade e de um respeito profundo, para com a evolução maçónica a todos os níveis. As conclusões de cada ano reflectem a problemática da actualidade de modo dinâmico; trata-se de decifrar a vontade dos homens e das mulheres progressistas e livres, que procuram estar sempre na vanguarda e que vão contribuir de modo decisivo para a evolução das sociedades e dos seus costumes.
Sejamos precursores da ascensão da essência humanista e humanitária da sociedade, de uma atitude de partilha recíproca! Deixemos de lado o egoísmo do indivíduo para adoptar o trabalho colectivo; Reforcemos o valor do que podemos fazer juntos; Mostremos a nossa vontade de trabalhar, de nos expormos, de tomar posição perante os desafios e os problemas da actualidade. É verdade que não se muda o Mundo, mas podemos despertar consciências, podemos agir!
Trabalhemos em prol de uma sociedade da Igualdade de Oportunidades, criemos Espaços Comuns para dialogar, para nos conhecermos, para nos reconhecermos; procuremos que o Direito ao respeito da identidade física, cultural e espiritual do homem seja uma realidade; afirmemos o direito de todos os indivíduos à Igualdade e à Liberdade!
Partilhar, respeitar, aproximar, não são palavras vãs… Nós compreendemos perfeitamente que para os Franco-Maçons estas palavras encontram a sua complementaridade radiante no tríptico Confiança – Esperança – Amor.