Divulgadas conclusões do II Encontro Maçónico Internacional de Atenas

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Divulgadas conclusões do II Encontro Maçónico Internacional de Atenas


“Trabalhemos em prol de uma sociedade da Igualdade de Oportunidades, criemos Espaços Comuns para dialogar, para nos conhecermos, para nos reconhecermos; procuremos que o Direito ao respeito da identidade física, cultural e espiritual do homem seja uma realidade; afirmemos o direito de todos os indivíduos à Igualdade e à Liberdade!” - este é um trecho das conclusões do II Encontro Maçónico Internacional, realizado em Junho deste ano em Atenas, e que acabam de ser divulgadas.

Como na altura relatámos, esse encontro, promovido pela Ordem Maçónica Internacional “Delphi”, decorreu sob o lema “Construir a Europa, Construir o Mundo”, e contou com a participação de António Reis, Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano - Maçonaria Portuguesa, e de numerosas personalidades de destaque na vida política e cultural de diversos países.

Empreender uma acção

Eis o texto com as conclusões desse importante encontro:

“Juntar, convocar, reunir, concentrar e chegar a acordo, para empreender uma acção, uma missão, é esse o objectivo! Trata-se da expressão activa da Franco-Maçonaria Universal não dogmática! Reunimo-nos em Atenas: um lugar antigo e moderno ao mesmo tempo, impregnado de história, de vida, de ideias e de cultura! Chegou o momento de concluir o diálogo que iniciámos e conduzimos durante dois dias e que reflecte a mais um ano de trabalho, o balanço mundial da acção maçónica; foi um diálogo fecundo, vivo, intercultural que garantiu que todas as vozes fossem ouvidas.

“Construir a Europa, Construir o Mundo”

A noção de diálogo não corresponde apenas ao facto de falar em conjunto; compreende um discurso e uma troca de um pelo outro e para o outro. Dia-logos, é uma palavra grega, que significa etimologicamente “ser atravessado pela palavra do seu interlocutor”.

O verdadeiro diálogo demonstra que existem tantas formas de ligar a “diversidade” com a “unidade”, quantos forem os indivíduos! O diálogo intercultural postula que na União Europeia é conveniente multiplicar as formas de diálogo, para que sobressaia ao mesmo tempo o respeito pela diversidade e a partilha de um mínimo de valores comuns, o primeiro dos quais é talvez a necessidade de diálogo. Para nós Franco-Maçons, sublinhar o papel do diálogo, no aprofundamento da cidadania, era um dos nossos objectivos. Tal facto exige, simultaneamente, vigilância e espírito crítico!

Intervenientes e temas

Minhas Irmãs e meus Irmãos, não são as culturas que dialogam entre elas, mas as mulheres e os homens livres, os Franco-Maçons que trabalham a pedra bruta - a pedra bruta, que na verdade, sofreu apenas um pequeno desbaste. Especialistas de horizontes e competências profissionais diversas desenvolveram, com pertinência, os temas postos à reflexão do II Encontro Maçónico Internacional:

- O Desenvolvimento Económico ao Serviço do Cidadão: A Europa no Mundo e a Europa e o Mundo;
- A Defesa do Ambiente: Emergência e Exigência;
- A Implicação das Novas Tecnologias (nanotecnologia, numérico, robótica, demótica, etc.)
- A “Laicidade” no Início do Século XXI;
- A Educação da Juventude: o Direito à Educação para Todos e à Integração na Sociedade.

Opiniões Expressas

O tema central da nossa reflexão foi o Futuro da Europa, o seu papel no Mundo e o seu enriquecimento pelo Mundo.

Mas qual Europa? A dos 18 ou a dos 27? Devia ter sido alargada ou não? Aspiramos a uma “Potência Europa” ou apenas a um “Europa Livre Cambista”? Constatamos claramente que é necessário cuidar dos problemas da Europa, tanto ao nível administrativo e operacional, como ao nível da redefinição sensata e aprofundada dos seus valores e da pluralidade das suas culturas.
Nós observamos que, na Europa, se acentua sempre muito mais a diversidade das nossas nações e o respeito desta diversidade, que o que temos em comum! Na realidade, é preferível preservar esta diversidade, factor de riqueza, em vez de procurar e impor um perfil europeu “único” e “uniformizador”.

Por outro lado, foi assinalado por especialistas, que reflectem os ecos duma realidade mundial exigente, que a Europa deve procurar apenas que um desequilíbrio demasiado grande não se instale entre o seu flanco Este e os seus vizinhos do Sul. O estado da sociedade contemporânea – desigualdades, perda de qualidade de vida, pobreza extrema, fosso que se cava diariamente entre “os pobres que se tornam mais pobres e os ricos mais ricos”, imigração, integração dos imigrados, exclusão e desfavorecimento de certos cidadãos, perda de dignidade humana…, - exige acção.

A sociedade contemporânea sofre duma globalização selvagem, duma ausência de fraternidade e de solidariedade humana! É verdade! Além disso, existe uma certa tomada de consciência… “Não mudaremos o Mundo”, isto foi dito em voz alta! No entanto, partilhamos todos a mesma convicção que, nós, Franco-Maçons conscientes, devemos trabalhar para alcançar a realização de uma República de cidadãos livres e respeitadores.

É desejável que os Franco-Maçons se encontrem em lugares de responsabilidade, eleitos da República que, pela sua ética, pelo exercício exemplar dos seus deveres, procurem que a sociedade seja emancipada positivamente.

É importante o desenvolvimento económico? Sim, mas a economia sem política torna-se o caos e a política sem filosofia é oportunismo. É preciso pôr a economia ao serviço do cidadão.

Por outro lado, compreendemos que perante uma crise ambiental sem igual, ligada ao principal e relevante problema do Aquecimento Planetário e aos problemas de Segurança Alimentar, é preciso reagir imediatamente! O desenvolvimento só pode ser duradouro, se for acompanhado pelo respeito da Natureza e igualmente da biodiversidade!

A contribuição das Novas Tecnologias e das suas aplicações na vida quotidiana foi discutida e constatámos o modo como a evolução da Tecnologia e da Ciência pode estar ao serviço da qualidade da nossa vida e da Protecção do Ambiente e, ao mesmo tempo, reflectir a importância primordial do Ensino e da Educação.

Falando de Ensino, aparece uma outra exigência: a do Direito à Educação de todos. A juventude deve estar imersa num ensino que tenha em conta, ao mesmo tempo, as evoluções e o nomadismo das novas tecnologias, que combata um certo relativismo nocivo e possa abrir-se à diversidade.

Deve trabalhar-se desde que a criança desperta para o mundo inteligível, para uma educação preventiva, com vista a uma educação emancipadora; para viver e agir em conjunto, segundo os princípios laicos e os nossos valores democráticos, devemos ter consciência que “do futuro dos valores depende o Valor do Futuro”!

A Educação é um dos desafios maiores da Laicidade. A Laicidade sendo racionalista ensina a tolerância. Considera a criança e o estudante enquanto futuros membros da cidade. Ela constrói o cidadão num quadro de respeito mútuo.

No que diz respeito aos valores laicos, apercebemo-nos que um novo sectarismo está à nossa porta! Neste momento, constata-se que, na Europa, prosperam os lobbies integristas. Partilham uma certa tendência para a xenofobia, sobretudo na recusa do multiculturalismo e na sua preocupação em preservar uma cultura retrógrada. O nacionalismo e o eurocepticismo são princípios preponderantes igualmente ligados à xenofobia. O traço mais importante consiste no entanto em combater os direitos das mulheres, os direitos sexuais e reprodutivos e a Laicidade, isto é, o pluralismo democrático. A Laicidade é um conceito exigente: nós temos todos a responsabilidade dos fracassos e das vitórias.

O Trabalho Maçónico - Algumas Realizações este Ano

Ao fazer o balanço das acções deste ano, constatamos que os nossos esforços, embora não mudem o Mundo, são apesar de tudo frutuosos. Para além do trabalho habitual, no interior das respectivas Lojas e das nossas organizações, realizaram-se aproximações consideráveis ao nível inter-obediências e adquirimos o hábito de trabalhar em conjunto, com a força das nossas especificidades e a riqueza das nossas diferenças. Por exemplo, durante este Encontro levantámos colunas duma loja francófona “O Labirinto Iniciático” e foi anunciada a criação de um Observatório Maçónico Europeu na GLFF.

Minhas Irmãs e meus Irmãos, tudo mais que é preciso assinalar, segundo creio, é que durante este II Encontro Maçónico Internacional de Atenas, pela primeira vez, na nossa história, um Presidente da Comissão Europeia dirigiu-se às obediências maçónicas, oficialmente, e reconheceu, solenemente, o nosso papel e a nossa contribuição, para a evolução da sociedade! (Ver a Mensagem de Sua Excelência o Presidente da Comissão Europeia, Dr. José Manuel Durão Barroso já publicada neste portal).

Pela igualdade de oportunidades

O que é preciso fazer no futuro? Há necessidade de definir os nossos objectivos?

Os Maçons, mulheres e homens livres, no fim de um ano de trabalho maçónico, reúnem-se sempre numa cidade diferente, onde uma Obediência se encarrega de organizar este Encontro. Reúnem-se para reflectir, dialogar, fazer o balanço do trabalho realizado; abrem um espaço de troca de ideias, onde todos são aceites, diferentes mas iguais e fraternos e onde é preservada a Liberdade de Consciência Absoluta de cada um!

Pensamos criar uma Cadeia de Encontros Maçónicos Internacionais, onde cada um dará continuação ao outro, da qual Atenas foi o segundo elo, numa estrutura muito flexível e ligeira, onde uma grande liberdade de expressão e de acção vai reinar. É o acordar em nós de uma grande responsabilidade e de um respeito profundo, para com a evolução maçónica a todos os níveis. As conclusões de cada ano reflectem a problemática da actualidade de modo dinâmico; trata-se de decifrar a vontade dos homens e das mulheres progressistas e livres, que procuram estar sempre na vanguarda e que vão contribuir de modo decisivo para a evolução das sociedades e dos seus costumes.

Sejamos precursores da ascensão da essência humanista e humanitária da sociedade, de uma atitude de partilha recíproca! Deixemos de lado o egoísmo do indivíduo para adoptar o trabalho colectivo; Reforcemos o valor do que podemos fazer juntos; Mostremos a nossa vontade de trabalhar, de nos expormos, de tomar posição perante os desafios e os problemas da actualidade. É verdade que não se muda o Mundo, mas podemos despertar consciências, podemos agir!

Trabalhemos em prol de uma sociedade da Igualdade de Oportunidades, criemos Espaços Comuns para dialogar, para nos conhecermos, para nos reconhecermos; procuremos que o Direito ao respeito da identidade física, cultural e espiritual do homem seja uma realidade; afirmemos o direito de todos os indivíduos à Igualdade e à Liberdade!

Partilhar, respeitar, aproximar, não são palavras vãs… Nós compreendemos perfeitamente que para os Franco-Maçons estas palavras encontram a sua complementaridade radiante no tríptico Confiança – Esperança – Amor.

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