TEOTÓNIO E DEMÓSTENES

sábado, 14 de abril de 2012

TEOTÓNIO E DEMÓSTENES


Teotônio e Demóstenes - Artigo do Grão Mestre Barbosa Nunes

Artigo do Grão Mestre Barbosa Nunes
Publicado no Diário da Manhã, edição 14/04/2012

Teotônio Brandão Vilela, alagoano, viveu de 1917 a 1983. Entre os 9 irmãos, Dom Avelar Brandão Vilela, que foi arcebispo de Salvador e primaz do Brasil. Seu filho, Teotônio Vilela Filho, é o atual governador de Alagoas.

Apesar de ter frequentado duas faculdades, não concluiu nenhum curso superior. Iniciou-se na carreira política em 1948. Deputado Estadual, vice-governador de Alagoas, senador da República por dois mandatos. Em 1974, desfraldou a bandeira da redemocratização, apresentando no senado, em abril de 1978, o Projeto Brasil, com propostas liberalizantes, aderindo a seguir, Frente Nacional pela Redemocratização.

Batalhador incansável pela anistia geral, caminhou sempre pelos rumos dos sonhos e calor do sangue libertário. Encerrou sua carreira parlamentar em novembro de 1982 em decorrência de um câncer.

No seu discurso de despedida em 30 de novembro daquele ano, fez questão de deixar clara a sua disposição em continuar atuando politicamente.

“Estou saindo desta casa esta semana, isto não é despedida, mesmo porque, não é do meu hábito despedir de nada. A vida política continua comigo, continuarei lutando lá fora, só não terei o privilégio de usar esta ou aquela tribuna. Quanto ao mais, prosseguirei na minha vida de velho menestrel, cantando aqui, cantando ali, cantando acolá, as minhas pequeninas toadas políticas.”

Em setembro de 1983, os compositores Milton Nascimento e Fernando Brant, escreveram em homenagem à Teotônio e Fafá de Belém cantou, “O Menestrel das Alagoas”, música que se transformou em hino da campanha das “Diretas – Já”, movimento que tomou conta do Brasil nos primeiros meses de 1984, exigindo que o Congresso aprovasse a Emenda Constitucional, que instituía a eleição direta para o sucessor do presidente Figueiredo.

Poema belo, contando história em um musical.

Teotônio Vilela, um realizador, um otimista que tem sua história no contexto histórico brasileiro de modelo às gerações futuras. Marcou época e ao lado de Ulysses Guimarães, enfrentou todo tipo de obstáculo. O fim da Ditadura Militar deve-se muito a seu trabalho corajoso.

De todos os discursos, homenagens, artigos, editoriais, ninguém mais que Milton Nascimento e Fernando Brant, interpretaram a alma de Teotônio, que o povo cantou, canta e cantará para sempre em “O Menestrel das Alagoas”.



Foto: Antônio Cruz - Agência Brasil

“Quem é esse viajante, Quem é esse menestrel, Que espalha esperança, E transforma sal em mel?

Quem é esse saltimbanco, Falando em rebelião, Como quem fala de amores, Para a moça do portão?

Quem é esse que penetra, No fundo do pantanal, Como quem vai manhãzinha, Buscar fruta no quintal?

Quem é esse que conhece, Alagoas e Gerais, E fala a língua do povo, Como ninguém fala mais?

Quem é esse?

De quem essa ira santa, Essa saúde civil, Que tocando a ferida, Redescobre o Brasil?

Quem é esse peregrino, Que caminha sem parar?

Quem é esse meu poeta, Que ninguém pode calar?

Quem é esse?”

Neste tempo de decepção que se avoluma dia a dia, diminuindo as esperanças depositadas em urnas, através do voto consciente em favor da moralidade, nos resta o olhar estupefato e inacreditável como os acontecimentos colocam o Estado de Goiás em manchetes nacionais e internacionais.

Aqui no Diário da Manhã, em artigo do dia 23 de julho de 2011, intitulado “Corruptos vivem em profundas tocas... São muitos e difíceis de serem capturados”, usamos a frase do escritor Machado de Assis: “A vaidade é o princípio da corrupção.” Secundado por Lord Action: “O poder tende a corromper e o poder absoluto, corrompe absolutamente.”

A autoridade política na sociedade humana, em função apenas e tão somente, de sua existência, tende a danificar as relações entre seres inicialmente dotados de igualdade.

“O poder político tende a corromper, porque o poder político faz de seu detentor uma pessoa diferente das demais, cercando-a de símbolo, distinções, privilégios e imunidades que sinalizam hierarquia superior, ocorrendo com o passar do tempo, uma transformação do indivíduo privado em autoridade pública que usa o poder em benefício privado. Nesta metamorfose, acontece a corrupção do poder político.”

Quem não se vigiou, não estabeleceu limites, linhas de defesa e foi se aproximando das situações de queda, terá que passar pelo processo de expiação. Expiação é agonia, amargura, angústia, ansiedade, desgosto e dor.

Sempre tive a expectativa de que Goiás teria o seu Menestrel e este estava sendo construído pela história que o povo goiano conheceu na parte externa, pela voz e posicionamentos de Demóstenes Torres. Lamentavelmente a parte interna era exatamente ao contrário e desconhecida dos seus eleitores e admiradores. Seu colega senador Pedro Símon, afirmou: “Se tudo isso for verdade, o senador Demóstenes é um excelente ator.” (Revista Veja – páginas amarelas).

De forma figurada e colocando um tom de ironia, o mesmo senador, na referida entrevista, afirmou: “O Demóstenes está pedindo para analisarem, julgarem e fazerem o que tem que ser feito. Se as acusações forem provadas, não há outro caminho que não a renúncia ou a cassação.”

Que o nosso conterrâneo Demóstenes que foi iludido pela vaidade e pelo poder que pensava ter, use em sua defesa a verdade. Verdade em total profundidade, sem uso do tecnicismo jurídico, embora muitos afirmem que nesta Operação Monte Carlo, se a verdade for mostrada no seu todo, o mundo vem abaixo, poucos se salvarão!

Que pena! Que decepção!


Barbosa Nunes, advogado, ex-radialista, delegado de polícia aposentado, professor e Grão Mestre da Maçonaria Grande Oriente do Estado de Goiás – barbosanunes@terra.com.br

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